sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

St. Anger


Uma hora eu canso
e deixo, só deixo
essa porra toda
sangrar

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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Semente



Dizem ser retardada
em seu fim
Quisera eu na minha ingenuidade
descabida
que ela morresse
antes de mim

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sábado, 20 de outubro de 2012

Retórica



Por livre e imediata vontade
neste pré-abismo me pus
A vista me diz que é necessário
mas não há coração

Cá estão os legados
que eu mesmo construí
Hão de me acompanhar
mas não há coração

Ainda que haja
na insistência
a vontade de exaurir
mas não há coração

Por ausência dele
por excesso de razão
pormenores de emoção
mas não há coração

No silêncio do meu vulcão
no desastre da minha brisa
a destruição se fez
mas não há coração

Andei por terras alheias
mendiguei migalhas
chorei
mas não há coração

Nessa escuridão
vozes soam
e sigo
mas não há coração

Me vi
me ouvi
no seu gosto de menta
mas não há coração

Da arte me fiz
na sua arte me vi
ora, quanto me quis
mas não há coração

Na escuridão
reluzente do seu olhar
vermelho
mas não há coração

Escuridão clara
clara escuridão
te amo ao ponto
de te amar sem coração

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Inconveniente verdade

O coração tem razões, que a própria razão ignora - de tão burras.



"Sometimes a man must awake to find that really he has no one"


sábado, 1 de setembro de 2012

Covardia contida



Dor alheia sob vigilância nociva
Auto dores sob vigilância ignorada:
covardia contida

segunda-feira, 19 de março de 2012

Pulseira Nova





"Seja menos crítico, 
exija menos das pessoas,
deixe que se aproximem de você; 
afinal, ninguém é perfeito.


Tenho a impressão de que
você é sozinho porque acha
que ninguém é bom o suficiente 
pra você".

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Weird Fishes




"Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome."

José Régio

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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Logorréia


Ausência de ar
não remete a fôlego;
traz à tona o imperceptível,
a auto-hipocrisia

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