quinta-feira, 4 de abril de 2013

Descaminho



Ao orgulho
a sua fortaleza
Em defesas prevalece
a força máxima

À fragilidade
a sua continuidade
A utilidade alheia
sobreviverá

À carne
a sua voracidade
Este mundo
é demasiado inocente

Ao tempo
a sua cegueira
De arrependimentos
se vive

À morte
minhas lembranças


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terça-feira, 19 de março de 2013

Da alma



Sem cor
cheia de maus tratos
e vidros lascados
E sem lugar

Devia ser muda
mas vez ou outra
contrariavam-na
em gritantes vozes

Servindo de portal
entre dois mundos,
agarravam-se nela
com cheiro de café

Sempre disposta
se exibia orgulhosa
à outra invejosa
- e tão preguiçosa:
aquela porta

Ali estava ela
enquadrando
seus personagens
enfeitados

Não era bela
mas nitidamente
deliciava-se no seu reflexo
logo à frente

Quando sozinha
vestia-se em amaciantes
e cor-de-rosa
e vinha a escuridão

Em público
alçava sua nudez
quase transparente
e vinha sua verdade

Não ia
nem vinha
ficava ali
elegante

Que tanto viu ela
quanto ouviu ela
quanto falou ela
aquela janela


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sábado, 9 de março de 2013

Seis



São elas
Essas malditas
O que insistem
em me trazer aqui

Eu me esquivo
desvio
Mas procuro 
e me entrego

Eu quero
Eu quis
Eu fiz
Eu era

Num ato
me fiz o hoje
Na covardia
o construí

Coragem me resta
e sei disso
Somente
Força

Você sabe
Você conhece
Você é coragem
Ou o sinônimo

Não me escondo
mas respeito
o que não vem
da escuridão

A simplicidade
era o que buscava
na aura
daquela tormenta

Eu e você
explicava isso
Eu e você
me fazia bem

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terça-feira, 5 de março de 2013

Blank page



Meu horizonte hoje surge
distante
e ele sempre existiu
Há muito não o via

Densas nuvens cinzentas
cobriam-no, como proteção
de algo ainda pior
que poderia vir de mim

Aos poucos a calmaria
dos meus demônios
convenceram a densidade cinzenta
de que a hora chegou

Como uma tempestade
que durou anos
Assim também ela 
se vai, morosa

Em nítidas folhas caindo
vejo em quantas delas eu pisei
Por toda a extensão da ignorância
vejo toda a destruição

A cada passo a lugar algum
o som seco do chão pronunciava-se
como se fossem costelas
quebrando-se de tão frágeis

Minhas árvores sussurravam
agonizantes, por socorro
Há muito não chovia por aqui
água não lacrimosa

Onde a escuridão dá lugar
Onde o sofrimento pairava
em conjunto com a angústia
e a mentira

Há um vazio inócuo
silencioso
e temeroso
e iluminado: eu

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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Black Tangled Heart


"Talvez sua sorte tenha mudado,
Acalmado
Talvez eu seja apenas um desordenado
Em todos os ressaltos

Talvez o amor fosse a coisa
Me segurando pra trás
Talvez eu seja simplesmente a coisa
Para causar minha própria queda

Pegue a corda para o meu coração e caia
Você deve ser o ultimo, antes de
Ver o coração negro enjaulado cair

Talvez a partida seja boa
Deixe espaço para mais
Comece a super-produzir
Por uma chance de ignorar

Talvez você se mate
Antes de eu chegar
Talvez eu me apaixone
E nunca aprenda"

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Susto

Se te abisma
essa decisão
de sair de tudo
que não quero

Saiba, minha cara
existem outros
abismos tão quão
profundos e inabitáveis

Se te orgulhas
desse isolamento
pseudo-real ou virtual
que não quero

Saiba, minha cara
existem outras
agulhas orgulhosas
que me faço permitir

Se te felicitas
a dor de um erro
alheio e
respingado

Saiba, minha cara
um erro
sempre será
o que nasceu pra ser

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

E você



Eles se divertem
socializam
e têm ressacas de amor
E você aí

Suas bebidas
têm sabor de felicidade
e companhias
E você aí

Vivem por si
Não sós
mas independentes
E você aí

Suas cúmplices
sabem o que são
Se colocam onde estão
E você aí

Eles têm o que lutar
têm do que rir
onde ir
E você aí

Têm força
Têm alma
e calma
E você aí

Riem do que querem
Respeitam o que são
Choram quando devem
E você aí

Gozam
saudáveis
Regozijam-se
E você aí

Podem ser
Podem ter
Podem fazer
E se ignoram

Até hoje era
o que eles nunca serão
Até hoje era
Valente

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Auto-viagem

Atos inegáveis
Paixões negadas
Repressões fúteis
Mutilações auto-estimáveis

Decisões se emocionam
Ausência de só
Excesso do outro
Fraqueza altruísta

Tempos se esgotam
Evolução estagnada
Batimentos sem compasso
Sono insone

Parafraseios incômodos
Silêncio obrigatório
Mar de pensamentos
Mar morto

Drogas clandestinas
Existência espelhada
Abstinência dúbia
Alívio imediato

Dependência iminente
Receio recorrente
Perdas inexistentes
Culpas inevitáveis

Vida abstrata
Vontade de viver

Se conhecer, ora
Não se sabe
nada sobre si
num acaso literário

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