sábado, 20 de outubro de 2012

Retórica



Por livre e imediata vontade
neste pré-abismo me pus
A vista me diz que é necessário
mas não há coração

Cá estão os legados
que eu mesmo construí
Hão de me acompanhar
mas não há coração

Ainda que haja
na insistência
a vontade de exaurir
mas não há coração

Por ausência dele
por excesso de razão
pormenores de emoção
mas não há coração

No silêncio do meu vulcão
no desastre da minha brisa
a destruição se fez
mas não há coração

Andei por terras alheias
mendiguei migalhas
chorei
mas não há coração

Nessa escuridão
vozes soam
e sigo
mas não há coração

Me vi
me ouvi
no seu gosto de menta
mas não há coração

Da arte me fiz
na sua arte me vi
ora, quanto me quis
mas não há coração

Na escuridão
reluzente do seu olhar
vermelho
mas não há coração

Escuridão clara
clara escuridão
te amo ao ponto
de te amar sem coração